Vivemos uma era marcada pela velocidade e acessibilidade às informações. Graças às mídias digitais e às inteligências artificiais, as pessoas têm hoje o mundo na palma da mão, podendo buscar qualquer dado, opinião ou solução com poucos cliques. No entanto, essa enxurrada de informações fáceis de acessar tem um lado obscuro: a confusão mental e a desvalorização do conhecimento profissional qualificado, especialmente na área da saúde.
Um exemplo revelador é o aumento das auto-medicações e do uso excessivo de suplementos. Muitas pessoas, ao se depararem com informações da internet, acabam seguindo tutoriais, fóruns ou recomendações que sugerem uma fórmula mágica para melhorar a saúde, emagrecer ou aumentar energia — muitas vezes sem orientação médica. A consequência mais comum é o uso de centenas de suplementos e vitaminas, às vezes desnecessários ou até prejudiciais, na tentativa de otimizar os resultados de um tratamento ou de alcançar resultados rápidos.
Vamos ilustrar isso com um caso real: uma paciente, que chamaremos de Ana, recebia uma prescrição médica para tratar uma deficiência de ferro. No entanto, ao pesquisar na internet, ela começou a adicionar dosagens extras de ferro, além de suplementos de vitamina C, ácido fólico e até remédios para emagrecimento. Sua intenção era potencializar os efeitos do tratamento, mas esse excesso de ingredientes interferiu na harmonia do seu tratamento, causando efeitos colaterais e atrasando sua recuperação. Além disso, ao discordar de alguns aspectos da prescrição, Ana passou a buscar várias opiniões, frequentando diversos consultórios e ouvindo opiniões conflitantes. No final, ela desconfiou da experiência dos profissionais, tentando montar uma receita própria, desvalorizando anos de estudo, dedicação e prática clínica acumulada pelos médicos.
Essa postura reflete uma perda do entendimento do valor do profissional de saúde. Antes, as pessoas tinham um médico de confiança, alguém que acompanhava sua história de saúde de perto, com uma relação de empatia e tradição. Hoje, muitas preferem “saltar” de especialista em especialista, buscando uma segunda, terceira, quarta…oitava opinião — muitas vezes porque percebem divergências que, na verdade, revelam a complexidade da medicina, que não é uma ciência exata ou uma receita de bolo.
A medicina, aliás, nunca foi uma ciência de absolutismos. Ela é uma arte que exige adaptação às necessidades individuais de cada paciente. O que funciona bem para um pode não funcionar para outro, e essa singularidade é a verdadeira beleza dessa área. O grande problema surge quando o paciente tenta seguir múltiplas linhas de pensamento ao mesmo tempo, sem confiar na experiência do profissional escolhido. O resultado pode ser uma espécie de “confusão terapêutica”, onde os efeitos do tratamento se perdem ou tornam-se imprevisíveis.
Claro que questionar é fundamental. Uma conversa aberta, franca e baseada em informações verificadas é o que deve prevalecer. O problema é a desconfiança exacerbada, a busca por um consenso múltiplo que, muitas vezes, nada mais é do que uma mistura de opiniões desconexas que só geram insegurança e possíveis riscos à saúde.
A essência da boa medicina está no cuidado individualizado e na relação de confiança entre paciente e médico. É essa relação que garante não só o sucesso do tratamento, mas também uma compreensão mais profunda do que a saúde realmente significa em cada fase da vida. Para alcançar isso, é fundamental que o paciente perceba o valor de um profissional qualificado, aceite sua orientação e evite o risco de seguir o modismo ou opiniões infundadas da internet.
Por fim, é importante lembrar: a verdade na saúde não está em soluções mágicas de fóruns e redes sociais. Está na confiança, no diálogo aberto e na compreensão de que o melhor resultado só virá quando os pacientes se permitirem, com humildade e bom senso, confiar no profissional que decidiram seguir — aquele que estudou, dedicou sua vida a compreender o corpo humano e sabe que, na medicina, a individualidade faz toda a diferença.