Quando falamos em menopausa, a maioria das pessoas pensa logo nos ovários “parando de funcionar”. Mas o que a ciência mais recente mostra é que a primeira mudança não acontece nos ovários, e sim no cérebro — mais especificamente no hipotálamo.
Essa região é como o maestro do nosso sistema hormonal. E antes mesmo do estrogênio cair de vez, o cérebro já começa a sinalizar alterações no eixo HHA (hipotálamo-hipófise-adrenal), o que impacta diretamente:
- Temperatura corporal (ondas de calor)
- Ritmo do sono (melatonina e cortisol)
- Memória, humor e clareza mental (neurotransmissores como serotonina e GABA)
- Sensibilidade ao estresse e ansiedade
Estudos mostram que o declínio estrogênico altera a expressão dos receptores de estrogênio alfa no hipotálamo, especialmente nas áreas que regulam a termorregulação e o sono — o que explica os sintomas clássicos, como calores súbitos e insônia (Santoro et al., 2021; Rance et al., 2013).
Essa fase tem nome: transição menopausal ou climatério
Essa é uma fase crítica — e muitas vezes negligenciada — porque os exames ainda estão “normais”, mas o corpo já está sentindo as mudanças.
A mulher entra em uma fase de flutuação hormonal intensa, que afeta:
- A neuroplasticidade (capacidade do cérebro se adaptar)
- A variabilidade da frequência cardíaca
- A sensibilidade à insulina
- O metabolismo ósseo
- O estado inflamatório de base
Um estudo publicado no Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism (2019) mostrou que mulheres na perimenopausa têm alterações neurofisiológicas visíveis em exames de imagem funcional cerebral, especialmente nas regiões associadas à memória e à regulação emocional (Mosconi et al., 2019).
Por que isso importa na prática?
Porque entender a raiz cerebral da menopausa muda completamente a forma de cuidar da saúde nessa fase.
💡 Isso significa que cuidar só do estrogênio pode não ser suficiente. É preciso olhar com carinho e estratégia para:
- O eixo HPA (controle do estresse e cortisol)
- O ritmo circadiano (sono e luz natural)
- A saúde do intestino (produção e metabolismo hormonal)
- A função da tireoide, que muitas vezes desacelera junto com os ovários
- A reserva cognitiva e o suporte neurológico (nutrientes, exercícios, estímulos mentais)
Menopausa não é o fim de nada. É um novo começo.
Mas esse começo precisa ser vivido com consciência, ciência e autocuidado.
A boa notícia? Hoje temos ferramentas para prevenir perdas ósseas, declínio cognitivo, disfunção sexual e até doenças cardiovasculares — com exames personalizados, avaliação hormonal funcional, imagem preventiva e, quando necessário, reposições seguras e bem orientadas.
“Escutar seu corpo antes que ele grite é o maior gesto de longevidade que você pode oferecer a si mesma.”
📚 Fontes científicas:
- Santoro N, et al. The Hypothalamus and Menopause: Frontiers in Reproductive Endocrinology. Endocrine Reviews. 2021;42(2):123–146.
- Rance NE, et al. Modulation of thermoregulatory pathways in the brain by estrogen. Cell Metabolism. 2013;17(5):723–735.
- Mosconi L, et al. Menopause impacts human brain structure, connectivity, energy metabolism, and amyloid-beta deposition. Scientific Reports. 2019;9:17273.
- Greendale GA, et al. Cognitive Aging in the Menopause Transition: A Population-Based Study. Neurology. 2009;72(23):2009–2017.